sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Olimpíada de Língua Portuguesa: dois textos na fase estadual

A Escola Ernesta Nunes está torcendo por suas alunas Andressa Silvério Ávila e Ana Paula da Luz, pois ambas tiveram seus textos selecionados para a fase estadual da Olimpíada de Língua Portuguesa. A notícia foi divulgada hoje pela equipe do Cenpec (que organiza a Olimpíada) por e-mail à professora de Língua Portuguesa Jocelene Trentini Rebeschini. Segundo a equipe do Cenpec, a fase estadual encerra em 17 de outubro, data em que todos os textos que foram para a fase estadual já deverão ter sido lidos para decidir sobre aqueles que irão concorrer na fase semifinal.
A aluna Ana Paula da Luz, do 1º ano A, concorre na categoria "Crônica", com o texto "Cinemando"; a aluna Andressa Silvério Ávila concorre na categoria "Artigo de opinião", com o texto "Presídio Regional: solução ou problema?". "Estamos todos na torcida e aguardaremos o resultado com muita expectativa, sabendo das chances que nossas alunas têm em razão da dedicação que dispensaram, especialmente da compreensão da necessidade de reelaborar os textos, refazendo-os de acordo com os critérios estabelecidos pela comissão organizadora do concurso. Considero a Olimpíada de Língua Portuguesa uma ótima oportunidade de trabalhar com gêneros textuais em sala de aula, sobretudo pela qualidade do material que os professores têm à disposição e que podem ser adaptados às diversas realidades do país. Além disso, já tivemos um aluno, o Wiliam, em 2010, na semifinal, na categoria artigo de opinião. Isso nos motiva a incentivar ainda mais os nossos alunos. Todos são capazes, basta que trabalhemos as habilidades", afirmou a professora Jocelene.
A seguir, publicamos os textos das alunas.


Cinemando
Por: Ana Paula da Luz

No norte do Rio Grande do Sul, fica a cidade de Carazinho, onde vivo. Nela, vejo crianças felizes, de sorrisos encantadores e de brilho nos olhos, alguns degustam um salgadinho e outros deliciam-se com uma saborosa pipoca de chocolate.
O filme é um desenho animado, e a emoção vai contagiando a todos ali. Adultos acompanham seus filhos em busca de sensações as mais variadas. Ao ir ao cinema da cidade, vivencio cada uma delas: do riso ao choro. Emociono-me pra valer e, às vezes sem perceber, uma lágrima escorre em meu rosto descendo nas curvas formadas pelo sorriso que se escancara a seguir. Algumas cenas me causam medo, outras deixam a imaginação correr solta. Às vezes um grito, outras me seguro na cadeira... Bom seria se tudo que vivi quando criança voltasse a existir, mas, no lugar do cinema onde vivi os melhores momentos de minha vida, só restou um antigo prédio. O silêncio toma conta das lembranças que ali ficaram, uma parte de nossa história hoje calada pelos tempos modernos, que trouxeram o conforto dos cines de shoppings ou dos DVDs em nossas casas.
O Cine Brasília resistiu bravamente como um dos últimos cinemas de calçada do país. Enquanto vivo, o proprietário manteve abertas as portas para a comunidade, sem se importar se lucrava ou não, pois o que realmente tinha valor era receber o público carazinhense com carinho e respeito para momentos de descontração.
Hoje, com suas portas lacradas para a comunidade, o nosso cinema tem sua importância reconhecida fora do município. Produtores de vídeo vêm até a cidade, buscando registrar tudo para um documentário que está sendo produzido. Mas... E nós? É angustiante ver um espaço cultural tão importante como esse abandonado.
Tantas escolas nossas precisam de um ambiente apropriado para desenvolver projetos como saraus literários, oficinas de teatro, apresentações de dança, música, coral, exposições ou espetáculos de arte e muitos outros eventos. Imagino nosso antigo cinema tendo sua memória preservada e, ao mesmo tempo, sendo palco de emoções como as que vivi em minha infância, quando entrava em contato com a sétima arte.
Para que tudo isso se concretize, no entanto, é preciso uma sensibilização de nossas autoridades e de todos os carazinhenses, mobilizando-se para que parte da memória de nossa cidade seja não só preservada, como também seja incentivadora de novas manifestações artísticas e futuros talentos, quem sabe até, ouso dizer, de líderes preocupados com a cultura, educação e o lazer, direitos que nos tornam cidadãos melhores e mais sensíveis.



Presídio Regional: solução ou problema?
Por: Andressa Silvério Ávila



Com pouco mais de sessenta mil habitantes, Carazinho, no norte gaúcho, assim como tantas outras cidades do país, tem um de seus maiores recursos naturais ameaçado por uma obra de grande porte.
Na divisa com o município de Passo Fundo, uma cidade-polo, acontece a construção do Presídio Regional, que terá capacidade para cerca de 350 apenados, podendo ainda ser ampliado futuramente. A edificação, porém, tornou-se alvo de grande polêmica, em razão dos possíveis prejuízos ambientais que poderá acarretar. É certo que projetos como esse, conforme defendem alguns, são, sim, de extrema importância para a sociedade, uma vez que se trata de uma questão de segurança. Os presos ficariam mais bem acomodados, reduzindo a superlotação em outras penitenciárias da região. As condições precárias e desumanas em que vivem muitos deles hoje seria, ao menos, minimizada. Devemos, contudo, levar em consideração que, se, por um lado, existe a necessidade de uma obra desse porte, de outro, é preciso lembrar que ela se localiza a cerca de apenas 50 metros do Arroio Araçá, principal afluente do Rio da Várzea, além de estar próxima ao ponto de captação da companhia de abastecimento de Carazinho, havendo, por isso, risco de contaminação. Essa possibilidade tem preocupado e mobilizado biólogos e ambientalistas carazinhenses, pois não há informações sobre a existência de um plano para tratamento dos efluentes nem espaço suficiente no terreno para construção das lagoas de decantação, de acordo com o que constatou a ONG ARIVA (Associação dos Amigos do Rio da Várzea). Na minha opinião, as vozes de alerta não podem ser ignoradas. É incompreensível e até mesmo inadmissível que em uma época em que se erguem bandeiras pela sustentabilidade e em que se aprova um novo Código Florestal (o qual pretende preservar nossas nascentes e rios), o Estado fique omisso quanto ao local onde estão sendo realizadas as obras. Por isso, é importante o apoio que o Ministério Público tem dado às manifestações (abaixo-assinados e passeatas) dos carazinhenses, encaminhando o caso para as autoridades competentes. É possível construir sem destruir, desde que o bom senso prevaleça, adotando-se medidas que possibilitem uma interação entre essa infraestrutura e o meio ambiente, viabilizando, assim, o Presídio Regional. Nesse sentido, seria prudente um reestudo do projeto - o qual se ergue m terras passo-fundenses -, com a devida fiscalização dos órgãos ambientais, já que, em se tratando de saúde, meio ambiente e segurança, não é possível dar prioridade a um em detrimento do outro. A defesa do Rio da Várzea, portanto, é imprescindível e faz-se necessário recuperarmos o que foi danificado ao longo dos anos, ao invés de prejudicarmos ainda mais o que resta desse importante recurso hídrico para a região, afinal o poeta carazinhense Odilo Gomes já alertava na década de 1980, na letra da música que homenageia o Rio da Várzea: "Hoje tu morres à míngua/E a vida ninguém te traz/Quem te mata continua/Matando cada vez mais".

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