Opinião

Em defesa da copa

Por: Fabrício Kauffmann - 3º ano A - diurno
2014

     O Brasil tem a fama internacional de ser o país do futebol, e agora que a Copa do Mundo realiza-se aqui, a população está tomando as ruas das principais capitais brasileiros indo contra os custos da realização desse evento de proporções mundiais. Os manifestantes alegam que esse dinheiro está sendo utilizado de forma incorreta, sendo desviado da saúde e educação.
     É necessário lembrar, porém, que o governo divide o seu orçamento entre os seus ministérios, como o da Saúde, Educação e Esporte, como exemplos. Isso significa que o dinheiro que está sendo empregado nos estádios não é o mesmo destinado à saúde e à educação, ou seja, não está sendo desviado dinheiro de outras áreas.
     Deixando isso claro, o Brasil só tem a ganhar com esse evento, aumentando a infraestrutura, o acréscimo no PIB, criando mais oportunidades de emprego, além da divulgação cultural de nosso país.
     Concluindo, posso dizer que a Copa do Mundo deve ser realizada e que a culpa dos problemas de nosso país não é da Copa, mas, sim, dos altos níveis de corrupção e má administração da renda obtida .

Texto resultante das oficinas da Olimpíada de Língua Portuguesa (professora Jocelene)





Cotas nas universidades: tem que haver direitos iguais!


Por: Liliane Morgan – 2º A - diurno
2012

Embora o governo acredite que, sancionando essa nova lei de cotas nas universidades federais, esteja colaborando para a inclusão de pessoas de escolas públicas, acredito que essa ideia apenas realça ainda mais o preconceito.
Não vejo motivo para pessoas negras, pardas ou índias terem prioridade ao realizarem o vestibular, deveria haver direitos iguais para brancos, pois desde quando cor da pele interfere na inteligência ou na capacidade?
Mesmo com o fator de escolas públicas terem o ensino menos capacitado que o das escolas particulares, conforme apontam alguns, isso não justifica a desigualdade que o sistema de cotas cria: há pessoas bem mais capacitadas que ficarão excluídas de universidades, as quais poderiam se destacar bem mais do que aqueles que ingressaram no ensino superior pela lei de cotas. É preciso lembrar que esses alunos poderão permanecer na faculdade com dificuldades no acompanhamento dos estudos em razão da má qualidade de ensino que tiveram, muitas vezes prejudicando a si próprios e até o grupo que os rodeia.
Portanto, com essa nova lei, o problema continua na mesma escala, pois garantir o acesso dos “excluídos” à universidade não contribui para a melhoria da qualidade do ensino na educação básica. Além disso, é absurdo garantir vagas em universidades apenas por questões de raça ou cor, por exemplo.





Cotas: Inclusão ou Preconceito?


Por: Daiara de Souza – 2º A - diurno
2012


     Recentemente, foi aprovado por unanimidade o programa de cotas, o qual vem tendo grande repercussão, afinal são vários os pontos de vista a serem discutidos, pois além de envolver a educação no Brasil, inclui também a questão do preconceito racial.
     Muitos acreditam que as cotas são bem-vindas, sim, em ambos os casos, tanto para estudantes carentes como para negros, pardos e índios, pois creem que destinar uma percentagem de vagas nas universidades federais fará a inclusão daqueles que muitas vezes seriam excluídos. Mas, creio eu, que somente é justa para alunos de escolas públicas, pois muitas vezes estes concluem o Ensino Médio não sabendo nem o básico do ensino de uma escola particular. Acredito também que as cotas para negros, pardos e índios só servirão como forma de causar constrangimento aos pertencentes a essas classes, pois cor ou raça não definem a capacidade intelectual do ser humano.
      Concluo, então, que algumas dessas leis devem ser reavaliadas com cautela, pois, como podem ser uma forma justa de incluir os desfavorecidos, podem também ser uma forma de preconceito contra estes.





Nos próximos dias, estaremos publicando outros textos sobre o mesmo tema.













Os alunos do ensino médio da Escola Ernesta Nunes já estão realizando as oficinas com vistas à realização da Olimpíada de Língua Portuguesa edição de 2012. Paralelamente às oficinas, os alunos são convidados a produzir textos, pois a professora Jocelene, que trabalha com a disciplina de Língua Portuguesa, acredita que só há uma maneira de aprender a escrever: "escrevendo, escrevendo, escrevendo... e reescrevendo". Para isso, a primeira proposta de 2012 aos alunos foi uma discussão sobre a possibilidade de liberação da venda e consumo de álcool nos estádios brasileiros durante a Copa de 2014. Após, as turmas realizaram produções textuais sobre o tema, das quais destacam-se os textos a seguir:



O Álcool na Copa do Mundo de 2014

Por: Suely Giacobbo - 3º ano B - noturno
2012



Como um dos maiores patrocinadores da Copa do Mundo de 2014 expõe seu marketing através de marca de cerveja, não teria lógica a bebida ser proibida nos estádios, porém sabemos que essa decisão estará contribuindo altamente para o aumento de menores alcoolizados, brigas entre torcedores alterados, sem falar na situação do trânsito após os jogos.

Todos nós, brasileiros, sabemos que existem certas restrições que proíbem o álcool dentro dos estádios, o governo não deve abrir exceções, mesmo com toda a grandiosidade do evento. Os estrangeiros devem se adaptar às nossas normas e não querer mudá-las.
Sou contra a liberação porque não vejo bons resultados para o Brasil com essa atitude. Também não apoio a decisão de o nosso país sediar o evento sem ter nenhuma organização com os outros itens que vêm no “pacote da copa”, por exemplo, querer alterar leis para agradar a estrangeiros e não pensar no bem-estar do próprio povo.
Por outro lado, a copa trará muito dinheiro à nossa nação, o que é bom, mas que não sabemos se será bem administrado e usado para um bem comum a todos ou se vai desaparecer como um fantasma pelo conhecido jeitinho brasileiro. Por isso bebida liberada!




A liberação de álcool nos estádios


Por: Luana Cardoso - 1º ano B - diurno
2012

Apesar de muitas pessoas acreditarem que a liberação do álcool nos estádios brasileiros para a Copa de 2014 seja boa, penso que isso só traria consequências negativas à população e ao país.

Entre os aspectos negativos poderíamos ter mais mortes desnecessárias, mais violência, embriaguez e falta de segurança, o que é extremamente ruim para todos, já que somos nós que iremos sofrer mais tarde com os malefícios.
De nada adianta implantar a Lei Seca para tentar melhorar o país e diminuir as mortes no trânsito e agora transgredi-la para que aconteça um evento esportivo. Além do mais, álcool e esportes não combinam, pois o esporte é sinônimo de saúde e vida e álcool é sinônimo de morte e inúmeras doenças.
Por todos os aspectos apresentados, fica evidente que é extremamente ruim liberar o álcool nos estádios. Nossos governantes precisam repensar essa atitude, pois ela pode custar muitas vidas.



Álcool e Copa: uma combinação possível?


Por: Bruna Cézar - 2º ano B - noturno
2012

Um assunto que está causando muita polêmica em nosso país é a venda de bebidas alcoólicas nos estádios por conta da Copa do Mundo de 2014.

Na minha opinião, a venda de bebidas alcoólicas deveria continuar sendo proibida, porque um estádio de futebol é um lugar de lazer, aonde as pessoas vão para se divertir com a família e amigos, não para beber descontroladamente e ocasionar brigas ou até mesmo mortes.

Esportes e bebidas alcoólicas não combinam: esporte faz bem para a saúde, ajuda o ser humano a se tranquilizar e se descontrair; já o álcool deixa a pessoa fora de si, totalmente descontrolada e traz doenças.

Não é porque nosso país vai abrir as portas a turistas que nossas leis deverão ser desrespeitadas ou modificadas. Para mim, uma lei decretada não deveria ser modificada por interesses comerciais. Em primeiro lugar, deveria vir o bem-estar do povo, valorizando a saúde e o lazer. Afinal, o lucro de uns pode ser o prejuízo de outros.



Álcool ou vida nos estádios?


Por: Luciano Lemes - 3º ano A - diurno
2012

Jornais, revistas e até as TVs comentam sobre a venda de bebidas alcoólicas nos estádios de futebol para a Copa de 2014, indagando se deve ser liberada ou não.
No Brasil, onde acontecerá o evento, a venda de álcool não é proibida, mas de 12 estados que sediarão a Copa, quatro têm leis que proíbem a venda. Está em discussão no Congresso Nacional a possibilidade de liberação pelo menos durante o período da Copa.
Na minha opinião, a venda de bebidas alcoólicas nos estádios deveria ser totalmente proibida por leis nacionais para evitar casos de violência entre torcedores e ajudar a controlar as multidões.
Diariamente, cenas de violência em lugares públicos, abertos acontecem sem a influência de bebida alcoólica, agora pergunto o que acontecerá nos estádios com a liberação da bebida? Esses casos, com certeza, só tendem a aumentar.
Certamente, a violência que vemos nos estádios, veremos também no trânsito, caso haja a liberação, portanto as consequências negativas não ocorrerão somente nos estádios, mas também fora deles, motivo por que é preciso que nossos representantes repensem a decisão que estão prestes a tomar.


Bebida nos estádios: proibir é imprescindível


Por: Pedro Lucas - 3º ano B - noturno
2012

O Brasil todo está se preparando para o maior campeonato de futebol do planeta. Nós, brasileiros, somos amantes de futebol por natureza. Mas a grande polêmica do momento é: álcool e futebol, será que essa combinação dá certo?
Uns querem proibir, outros querem liberar a venda de álcool nos estádios no período da Copa. Na minha humilde opinião, a proibição da venda de bebidas alcoólicas é imprescindível para a segurança dos torcedores, pois já estamos cansados de ver diariamente através dos veículos de informação o que os indivíduos alcoolizados causam de brigas, discussões e acidentes. O estádio, no meu modo de ver, é um lugar de família, aonde os pais levam seus filhos para assistir ao espetáculo que é uma partida de futebol. Porém, não são poucos os casos de violência nos estádios, torcida agredindo torcida, gente inocente sendo agredida, muitas dessas confusões causadas pelo alcoolismo. E isso acontece em boa parte dos jogos do campeonato brasileiro, que pode ser um termômetro para a Copa.
Não estou querendo dizer que todos os brasileiros façam isso, mas por uma pequena parcela todos acabam levando a culpa. Se houvesse modos e moderação por parte de todas as torcidas, não haveria problema em liberar, mas é preciso lembrar ainda que essas agressões não ocorrem apenas com a torcida brasileira, mas sim em âmbito mundial.
Não podemos correr o risco de que poucos engraçadinhos manchem a fama do nosso país, de um país do futebol para o país da desorganização, do caos. Temos que "fazer bonito" diante de todas as nações que são representadas por seus jogadores. Temos que proibir a bebida alcoólica nos estádios para evitarmos problemas relacionados ao álcool, garantindo a segurança de todos.






Escola: ambiente adequado para o namoro?

Por: Daiara de Souza - 1º ano A - diurno
2011


Ao abordar o tema "namoro nas escolas", pergunto-me se deve ser liberado, proibido ou apenas haver imposição de limites.
Acredito que nem tudo deve ser liberado, afinal, sem impor limites, tudo vira anarquia. Por exemplo, temos escolas em que alunos vivem "de agarramentos" vulgares, beijos e "amassos". Creio que isso é um pouco exagerado para um ambiente escolar, afinal há crianças no local, as quais até mesmo reclamam das atitudes dos colegas mais velhos.
Os pais, muitas vezes, não estão cientes do que seus filhos estão fazendo na escola. Então, penso que professores e diretores devem entrar em um consenso e impor regras que limitem os namoros, pois eles podem causar constrangimento em público. Limites devem ser rígidos, e se não forem cumpridos deverá haver punição.
Todos temos direito de estudar em um local agradável, afinal escola deve ser um ambiente de estudo, onde haja respeito da parte de todos.






Objetivos do milênio: qual é o meu jeito de mudar o mundo?

Por: Everton Campos - 8ª B

Texto para o concurso Oratória nas Escolas 2011


Os objetivos do milênio são ações e formas com que podemos mudar a realidade em que vivemos, envolvendo sociedade como um todo, unida pois creio que sozinhos nada podemos.
Eles são desafiadores e exigem uma constante luta para podermos cumpri-los , visando a uma boa qualidade de vida.
Num momento em que se fala tanto desenvolvimento social, é frustrante lembrar que ainda hoje há pessoas morrendo de fome. É possível haver paz enquanto a fome e miséria não forem combatidas ? Com certeza, não, e sabemos que um país mal administrado faz a fome e a miséria aumentarem. Então, o que fazer?
É nosso dever como cidadãos unirmos forças para que vidas não sejam tratadas como lixo diante nossos olhos pelos “poderosos” que podem ser uma verdadeira ameaça à igualdade social.
Uma das formas mais eficazes de transformarmos nossa realidade é por meio do voto, uma oportunidade que nós, cidadãos temos de reverter essa terrível situação. Precisamos aprender a exigir de nossos governantes o cumprimento de seus planos de governo e nos engajarmos em programas sociais que promovem a cidadania, levando melhores condições de vida aos menos favorecidos
Também a mulher precisa ter o seu valor , e ela tem conquistado grande espaço na sociedade, garantindo direitos antes negados. O mercado de trabalho é um grande exemplo de conquista feminina. Nosso trabalho deve ser no sentido de combater preconceitos que ainda persistem, lutando por leis que permitam punir com rigor aqueles que ainda fazem das mulheres vítimas de humilhação com agressões físicas ou verbais.
As novas pesquisas e descobertas permitem melhores cuidados com as crianças, tanto na prevenção como no diagnostico e tratamento. Isso vem contribuindo bastante na queda da mortalidade infantil. Por outro lado, ainda há muitas crianças vítimas da fome e de doença; Em alguns locais do país aonde os programas sociais ainda não chegam. É preciso cobrar das autoridades, especialmente as mais próximas , ações que possam minimizar esse problema.
É essencial, para termos uma sociedade desenvolvida em todos os sentidos, que tenhamos cidadãos críticos , e isso só se consegue com uma educação de qualidade, que permite ao cidadão a conquista da autonomia profissional, garantindo uma vida digna.
Sabemos que apenas o ensino básico não traz muitas vezes todos os benefícios desejados. Mas é o mínimo que precisa ser garantindo. No entanto são muitos os jovens por esse país afora que ainda precisam abandonar os estudos para trabalhar. De que forma serão profissionais competitivos nesse exigente mercado?
Precisamos buscar essa qualidade , questionando, exigindo dos governos que ofereçam a infraestrutura necessária às escolas, manifestando nossa opinião critica quando tomamos conhecimento de casos em que o acesso ao ensino não é permitido .
Uma educação de qualidade faz toda a diferença, repercute com grande impacto no desenvolvimento de uma nação o que é fundamental para um país livre de exploração. O meu jeito de mudar o mundo, portanto é este: buscar formas de garantir qualidade de vida e educação exigindo dos que detêm o poder nas mãos um plano de governo eficiente e que minimize a pobreza, com atitudes politicamente corretas: o voto certo, maduro e consciente, e a participação cidadã na vida comunitária , em entidades que trabalhem em prol da humanidade.









Leitura: um caso de amor


Jocelene Trentini Rebeschini (*)

Talvez o meu mais sutil e distante contato com as letras tenha sido provocado por quem pouquíssimas letras tinha. Lembro-me de uma determinada época em que meu pai, homem que não teve estudo, um descendente de italiano que se atrapalhava nos "erres", gostava muito de passar as poucas horas de folga em que estava em casa deitado no sofá com uma revistinha de palavras cruzadas nas mãos. Às vezes ele interrompia alguma brincadeira em que eu estava metida para pedir uma ajuda na solução da palavra, outras vezes a revistinha ficava por ali, convidativa, e eu a furtava para resolver aquilo que para mim eram grandes problemas. Meu pai nunca me repreendeu por ter resolvido algum diagrama, ou por ter acertado a charada, ou ainda por ter solucionado uma cruzadinha. E continuamos por muito tempo assim... sócios nas revistinhas. Nesse tempo, eu já estava alfabetizada, mas não me recordo de experiências com leitura na escola, talvez porque elas não tenham sido significativas, ou talvez porque elas não estivessem motivadas por uma relação de afinidade, de sentimento, de troca, de afetividade, tanto quanto era aquela experiência de leitura e escrita que eu conseguia manter com meu pai.Eu fui crescendo e a essas primeiras experiências com as letras foram se somando outras. Como um dia em que a minha mãe chegou com um livrinho da cachorra Lassie em casa. Durante um bom tempo, aquele foi o meu tesouro. Não era um livro grosso, era fininho, tinha imagens grandes e coloridas, mas a história era tão linda, cativante, que aquele livro me acompanhava por onde eu ia. Eu relia, olhava as páginas de novo... Queria outros, ia junto com minha mãe fazer as compras da casa e sempre ficava na expectativa de ganhar mais um. Lembro-me de uns livros grandes, coloridos, mas custavam caro... mamãe não podia comprar. Eu me conformava, nunca contestava, sabia que o nosso dinheiro era contadinho para a comida e algumas necessidades. Contudo, teve um Dia da Criança, não me recordo bem, acho que lá pelos meus dez anos, em que eu pude escolher um livro. E eu não pensei duas vezes: resgatei da prateleira e trouxe feliz da vida para casa A ilha perdida, que durante muito tempo povoou o meu imaginário. Eu me via na pele daquelas crianças, vivendo a aventura de ir até a ilha e conhecer um estranho que morava lá... A minha imaginação não tinha limites, eu sempre inventava, nas minhas aventuras, algum detalhe que não estava lá no livro... Foram meses relendo e reinventando aquela história, que era alimentada pelo ambiente onde eu morava. Na época, minha família vivia em Itaguaí, uma pequena cidade do Rio de Janeiro, no interior, com praias calmas, algumas ilhas e morros muito verdes, cobertos de plantações de bananeiras. Esse cenário era perfeito para dar asas à imaginação, fomentada pela história de Maria José Dupré.Confesso, porém, que, por mais que tente, não consigo lembrar de leituras na escola, a não ser aquelas comumente feitas em livros didáticos, com trechos soltos de obras literárias. Meu envolvimento com o texto continuou de forma mais sentimental, passei a fazer poemas que ficavam entre mim e mim, e mais ninguém. Lia revistas, alguns jornais, gibis. E alguns livros que fui ganhando de presente de parentes, vizinhos, até uma coleção de dicionários eu cheguei a ganhar de um amigo de meus pais que percebeu o meu gosto pela leitura. Também conseguia ler enciclopédias e outros livrinhos que minha mãe autorizava comprar em promoções que a escola fazia com algumas editoras (dessas em que se vender um determinado número ganha um mapa, se vender mais ganha um livro, etc.).Já no ensino médio, lembro-me de uma única professora ter pedido uma vez para lermos O guarani, de Alencar. Detestei, achei uma história muito chata, com uma linguagem "nada a ver" um enredo que não me dizia nada: uma branca, fidalga, filha de um nobre, defendida o tempo todo por um índio que nem parecia brasileiro. Eram situações muito distantes da minha realidade: nunca conheci uma fidalga, mansões do tipo em que ela vivia, então, nem posso imaginar até hoje, um índio daquele tipo, mesmo os que têm contato com os brancos, são bem diferentes do Peri descrito na obra. Passei, então, mais uma vez, longe dos livros literários na escola durante o meu ensino médio. Apesar disso, fiquei encantada com os textos de Leonardo Boff que eram discutidos em aula (de Ensino Religioso, Filosofia, Sociologia) e posso dizer que muito do meu senso crítico e da minha sensibilidade como ser humano hoje eu devo a essas reflexões feitas na sala de aula. E confesso a minha frustração novamente com as aulas de Português: eu podia ler, escrever e manifestar minha opinião muito mais em outras disciplinas do que na de Português. Lembro-me de ter feito uma única "redação", sobre o aborto, durante todo o ensino médio.Por outro lado, minhas leituras de obras literárias eram fomentadas num outro ambiente. Tinha uma vizinha que comprava livros do Círculo do Livro e nessa época eu já trabalhava para ajudar no sustento da casa. De vez em quando, comprava meus livros e trocávamos por empréstimos algumas obras literárias: foi quando eu descobri Pássaros feridos; Otelo; O admirável mundo novo; entre tantas outras obras. Um namorado me fez ler Não matem as flores, de J.M. Simmel; um tio me deu de presente Com licença eu vou à luta; minha chefe no jornal onde eu trabalhava (fui redatora de jornal, porque amava escrever e nessa época eu já escrevia bem), apresentou-me Sidney Sheldon. Foi uma paixão fulminante e dele li várias obras. Logo em seguida descobri o tão criticado Paulo Coelho. Li tudo o que podia dele. Gostei de alguns, outros considerei menos interessantes. Você deve estar se perguntando apavorado: mas e os clássicos? Até então não me fizeram falta, nem para o vestibular. Sei que você deve estar opinando, horrorizado: como um professor de Português e Literatura afirma um absurdo desses? Não me sinto nem um pouco culpada por não ter tido contato com os clássicos nessa época. Só fui descobri-los anos mais tarde, na faculdade de Letras. E aí me apaixonei não por Alencar, nem por Machado de Assis. Penso que o primeiro retrata uma mulher que não existe e, mesmo para a época em que a obra foi escrita, faz falta naquele conjunto todo ver desfilar personagens mais humildes, mulheres de uma classe social que, infelizmente, não foi retratada por ele. E creio que o segundo é muito machista ao mostrar suas personagens femininas. Na obra machadiana, muitas mulheres são traidoras, pouco importando as razões dessa traição. Muitos narradores das histórias machadianas levam o leitor a acreditar que a personagem feminina é uma subvertida, dissimulada, ao passo que o homem é um coitadinho, uma vítima. Mas, voltando ao assunto, nesse tempo minha paixão passou a ser Luís Fernando Veríssimo, Érico Veríssimo, Martha Medeiros, Moacyr Scliar, Mário Quintana, Graciliano Ramos, Marina Colasanti, entre outros. Um time da pesada, e todo nosso, brasileiro, em grande parte gaúcho. Não eram obras que tínhamos o compromisso de ler para apresentar, ou para resumir, ou para resenhar, mas sabiamente meus professores souberam nos envolver em discussões e análises de personagens, questionando de forma inteligente sobre detalhes que talvez sozinhos não tivéssemos percebido. E aí eu entendi: eles só souberam conduzir daquela forma a discussão porque se apaixonaram pelo texto que pediram para ler, porque também eram leitores daquele texto. E leitores que, apesar de já terem suas teses, suas opiniões, queriam ser desafiados por outros leitores, tentando ainda extrair algo de novo daquilo que já conheciam bem. O texto é, dessa forma, como um grande amor: é preciso imaginação, é preciso desafio, é preciso descobrir algo novo nele a cada dia, respeitando a sua integridade. Assim, posso afirmar que passei a observar personagens de determinados autores com outros olhos, porque discuti apaixonadamente sobre eles, porque tive que pensar sobre eles o que jamais pensaria se apenas lesse o livro para fazer um resumo, um cartaz sobre a obra ou um trabalho para apresentar ao professor.Por tudo isso, penso que não é preciso massacrar o aluno na escola com a leitura de obras que muitas vezes não têm a menor afinidade com eles e as quais, só com o tempo e a maturidade eles terão capacidade para compreender, assimilar.  Por outro lado, a escola não pode continuar omissa do seu papel de despertar no aluno o gosto pela leitura, e essa paixão pode partir de onde menos se espera: a minha, por exemplo, partiu da leitura de revistas de palavras cruzadas. O que não podemos permitir é o preconceito de que esse ou aquele tipo de leitura é melhor para o aluno, num país em que temos tão poucas oportunidades de acessar o texto. É papel da escola despertar essa paixão, mas, como um amor que amadurece, é aos pouquinhos que o aluno vai adquirindo a capacidade de gostar desse ou daquele gênero literário, até mesmo de clássicos como Alencar e Machado de Assis. Sugiro, indico, sim, os clássicos para os meus alunos, mas sou bem sincera em expor para eles o tipo de leitura que farão. E não faço "boca torta" quando um aluno me diz que escolheu para ler um livro mais fininho. Tudo tem o seu tempo. Nosso papel, como educadores, é orientar a leitura, inflamar as discussões e as análises, despertando curiosidades e interesses. Penso que essa forma surte mais efeito do que tentar empurrar "goela abaixo" alguns clássicos, muitos deles escritos apenas com o objetivo de preencher o tempo de um público burguês, que precisava de uma leitura de entretenimento. Uma boa alternativa é apresentar os contos dos autores clássicos e extrair deles o máximo, sugerindo, nunca impondo, que naquele mesmo estilo existem outras obras, mais densas, mais complexas. A leitura é um caso de amor, que precisa ser cuidado, cultivado, cativado; caso contrário, fenece, perde-se na primeira esquina, trocado por um novo amor. Em tempos em que temos tantos outros interesses e formas de cultura, informação e entretenimento, não é nada inteligente pensar que um tipo de texto é melhor ou pior que outro. Ou que somente um determinado grupo de escritores é que deve ser lido. Temos textos diferentes, autores diversos, gêneros diferentes, para todos os gostos e para atender a diferentes necessidades. É só oportunizando a leitura dessa diversidade que o aluno poderá construir a sua própria experiência de leitura, o seu caso de amor com o texto.
(*) Especialista em Práticas Pedagógicas Interdisciplinares com Ênfase em Produção Textual






Nenhum comentário:

Postar um comentário