Enem: dicas

REDAÇÃO

Como dissertar/argumentar


O primeiro desafio para quem quer escrever bem é estar em contato com o tipo de texto que quer produzir e observar como ele é estruturado em vários de seus aspectos. Por isso, para escrever bons textos dissertativos, em primeiro lugar, você deve ler vários textos dissertativos, sobre os mais diversos assuntos. Além disso, ninguém consegue defender seu ponto de vista, abordar um tema ou convencer outra pessoa, se não tiver argumentos ou conhecimento do que está falando. Portanto, pessoal, leitura, informação, troca de ideias, debate sobre atualidades para poder formar opinião. Somente assim os argumentos poderão ser elaborados, desenvolvidos.


A LINGUAGEM NO TEXTO DISSERTATIVO


Inicalmente, trataremos da questão de adequação da linguagem. Não é possível conceber um texto argumentativo que contenha uma linguagem coloquial, totalmente informal. Isso quer dizer que não é pertinente o uso de gírias e de expressões da oralidade. Por exemplo, em vez de usar a frase "ele não consegue pôr pra fora os sentimentos" (típica da linguagem oral), está mais adequado o emprego de uma frase como esta: "ele não consegue exteriorizar os seus sentimentos" ou "ele não consegue demonstrar os seus sentimentos". Outro "pecado" comum entre os estudantes é o famoso "eu acho". Corte essa expressão do seu vocabulário escrito. Substitua por "penso", acredito que", "creio que" ou outras equivalentes.


O uso de expressões abreviadas, como as que são usadas na internet (via Orkut, MSN e nos e-mails, por exemplo) também não são adequadas para o texto dissertativo, que prima por uma linguagem culta e formal. O vocabulário não precisa ser complexo, as frases, os períodos devem ser curtos, mas o uso de abreviações do tipo vc, aki, ñ, entre outras, é proibido.


Do mesmo modo, o uso de lugares-comuns, frases feitas ou chavões também fica proibido. Começar o texto ou empregar durante a sequência da redação expressões do tipo "a cada dia que passa", "atualmente", "nos dias atuais", "hoje em dia", "hoje", entre outras, demonstra falta de criatividade e de vocabulário. São expressões que só servem para "encher linguiça", isto é, aumentar o tamanho do texto e fazer rodeios. A linguagem dissertativa deve ser direta, sem rodeios.


AS PESSOAS DO DISCURSO


E já que abordamos a questão da linguagem, vamos falar em pessoas do discurso. Ao escrevermos sobre um tema, podemos fazê-lo por meio da linguagem subjetiva ou objetiva.


Na linguagem subjetiva, o autor envolve-se mais diretamente com o tema, manifestando sua visão pessoal. Para isso, faz uso das expressões em primeira pessoa: acredito que, tenho certeza de que, vejo que, penso, minha geração pensa que, entre outras formas. Ao usar a linguagem subjetiva, devemos evitar o uso demasiado do "eu", pois a sequência do texto e o emprego dos verbos deixarão isso claro.


Já na linguagem objetiva, ou seja, impessoal, podemos escrever o texto empregando estas formas:


a) pelo uso da 3ª pessoa do singular + se, indeterminando o sujeito: acredita-se que, percebe-se que, pensa-se que, nota-se que, necessita-se, entre tantos outros exemplos;


b) pelo uso da 1ª pessoa do plural: pensamos que, acreditamos que, temos certeza de que, vemos que, consideramos importante, são algumas formas;


c) pelo uso do verbo no infinitivo: pensar a problemática da água pode (...), acreditar que o problema pode ser resolvido é (...), é importante considerar (...), convém lembrar (...), é preciso não esquecer que (...), como outras formas.


Seja qual for a linguagem empregada, o que não pode ser feito é a mistura de pessoas do discurso. É preciso padronizar o texto: iniciada a redação com um tipo de pessoa do discurso esta deve ser mantida até o final, sob pena de comprometer a coerência do texto. Exemplo do que não pode ser feito: "É preciso combater a violência. Para isso precisamos exigir dos governantes medidas drásticas na área da segurança. Só assim acredito que o problema estaria próximo de ser solucionado." Somente nesse parágrafo houve o emprego de três pessoas diferentes: verbo no infinitivo, 1ª pessoa do plural e 1ª pessoa do singular.


A ESTRUTURA DO TEXTO DISSERTATIVO

Um texto dissertativo padrão deve conter, além do título, pelo menos três parágrafos: a introdução, o desenvolvimento e a conclusão.
Na introdução, o autor do texto deve deixar claro o ponto de vista que vai expor, delimitando o tema que vai explorar ou ainda evidenciando a sua tese, isto é, a ideia que vai defender ao longo do texto. Assim, no começo de um texto, por exemplo, sobre a pena de morte, é possível fazer vários tipos de introdução, dependendo do rumo que o autor do texto pretende dar à sua redação. É possível fazer um questionamento que depois deverá ser respondido na argumentação (desenvolvimento do texto), ou iniciar o texto fazendo uma afirmação sobre prós e contras da adoção da pena de morte (para quem não pretende defendê-la ou condená-la), ou evidenciar a sua opinião claramente com afirmações do tipo: "A pena de morte não deve ser adotada porque não resolve os problemas da criminalidade."; "A pena de morte deve ser adotada porque diminuiu a violência consideravelmente nos países em que é praticada.". Ainda é possível começar uma introdução com um argumento contrário ao que o autor pretende defender: "Apesar de algumas pessoas serem contrárias à pena de morte, ela deve ser adotada porque diminui consideravelmente a violência, como já ficou provado nos países em que foi adotada."; "Embora muitos se posicionem favoravelmente á adoção da pena de morte para punir crimes violentos, essa medida já demonstrou ser ineficaz no combate ao crime."
Logo em seguida à introdução, devem ser elaborados os parágrafos de desenvolvimento do texto. Não existe um número indicado de parágrafos, mas deve ser realizado um parágrafo para cada argumento que o autor do texto tiver. Assim, fica claro que se deve mudar de parágrafo quando se muda o argumento e não quando se muda de "assunto", como ensinam alguns professores. O assunto é o mesmo ao longo do texto. Mudam-se os argumentos. Então, se você estiver fazendo um texto sobre prós e contras, pode fazer um parágrafo sobre aspectos favoráveis e outro sobre aspectos negativos. É possível usar como argumentação a exemplificação (e respectiva análise), o comentário de dados estatísticos, a contra-argumentação, isto é, rebater argumentos contrários à ideia que o autor defende, comparação histórica, citação de outros autores que defendem as mesmas ideias do autor, entre muitos outros recursos. O desenvolvimento do texto é, portanto, a fundamentação da tese, são os argumentos que vão convencer o leitor sobre a ideia ou ponto de vista exposto na introdução. Essa parte do texto deve ser maior do que a introdução, já que conterá a fundamentação.
Por fim, a conclusão do texto amarra os argumentos e a tese com uma reflexão final. Não é raro usar o recurso do questionamento ou mesmo afirmações categóricas, que complementam o que foi afirmado ao longo do texto. O que não se faz na conclusão é "dar ordens" do tipo: "Por isso, seja inteligente e recicle seu lixo, isso ajuda a melhorar o meio ambiente em que vivemos." Esse tipo de linguagem não cabe o texto dissertativo. A mesma frase pode ser reelaborada assim: "Por todos os aspectos analisados no texto, está comprovado que a reciclagem do lixo auxilia na melhoria das condições ambientais em que vivemos, revelando ser uma prática inteligente e politicamente correta."


A ESTRUTURA DO PARÁGRAFO DE DESENVOLVIMENTO

Elaborar um parágrafo não é fazer uma frase e imediatamente passar para outra, acreditando que fez um novo parágrafo. Também não se muda de parágrafo porque "se muda de assunto". O assunto tratado no texto é o mesmo, do começo ao fim, caso contrário, acontece a famosa fuga do tema.
Ao elaborar um parágrafo de desenvolvimento você deve ter em mente que é preciso escrever o tópico frasal, isto é, o argumento inicial. Em seguida, devem ser acrescentadas a essa ideia análises, citações, justificativas, exemplificações, enfim outras frases que esclareçam a ideia inicial apresentada no início do parágrafo. Por fim, deve-se concluir o parágrafo com uma consequência lógica a partir do que foi exposto ou argumentado.
E muito importante: não esquecer de "amarrar" as ideias do texto com os operadores argumentativos (palavras, sobretudo as conjunções, que estabelecem relações de causa, conclusão, explicação, adição, oposição etc.).
(Texto elaborado por Jocelene T. Rebeschini - Professora de Língua Portuguesa e Literatura Brasileira)

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